Cinco mulheres, entre elas pernambucanas e baianas, que
fizeram história no Vale do São Francisco. Algumas ficaram famosas, outras
permaneceram no anonimato, mas que se fizeram importantes para uma classe
profissional que ainda está em construção nas cidades de Petrolina e Juazeiro,
a imprensa. “Filhas de Lilith na Imprensa em Juazeiro e Petrolina” é um livro
reportagem perfil, que traz a história de Elisabete Campos Souza, Inah Tôrres,
Maria Izabel Muniz Figueiredo, Layze de Luna Brito e Lucélia Eloísa Barbosa
Almeida, mulheres que vivenciaram e participaram do inicio do jornal impresso e
do rádio na região.
Escrito por Jaquelyne de Almeida Costa e Juciana Tenório
Cavalcante, publicado em 2010 pela editora Livro Rápido, o livro reportagem é
resultado do trabalho de conclusão do curso Comunicação Social com habilitação
em Jornalismo e Multimeios. As autoras, que são jornalistas formadas, são
pernambucanas, Juciana natural de Belém do São Francisco e Jaquelyne de
Petrolina. Apaixonadas pela escrita e pelo jornalismo buscaram na Universidade
do Estado da Bahia a formação que tanto desejavam. Juciana, foi repórter do
Jornal Diário da Região, em 2009 ganhou o prêmio Destaque Imprensa como
revelação no jornalismo impresso, hoje é jornalista da Assessoria de
Comunicação da Prefeitura Municipal de Petrolina. Jaquelyne desde pequena se
identificou com poesia, ganhou prêmios e concursos, é membro da União
Brasileira de Escritores de Petrolina, atualmente é assessora de imprensa da
Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina.
Filhas de Lilith na Imprensa. Mas por que escolheram Lilith,
se essa é conhecida por muitos como um ser demoníaco? De acordo com as autoras,
Lilith foi escolhida não pela característica maligna que esse nome leva, e sim
pela representação de liberdade e igualdade de direitos, já que ela foi a
primeira esposa de Adão e se rebelou contra ele. Segundo comentários cabalísticos
do Pentateuco, Lilith foi feita do pó para fazer companhia a Adão, entretanto
não suportou o autoritarismo do seu companheiro, pois não aceitava ser dominada
e inferiorizada a um ser da mesma origem que a sua. Diante disso deixou o
Paraíso.
O que essas cinco mulheres têm de Lilith? A liberdade de
seguir os seus desejos e sonhos. Elas não se rebelaram contra os companheiros e
a família. Muito pelo contrário, o que há em comum nelas além da paixão pela
imprensa são o apoio e a influência que receberam da família para praticar o
que gostavam.
A primeira perfilada Betinha do Pharol foi uma das melhores
tipógrafas da região. Seu pai que faleceu quando ela tinha quatro anos, também
foi tipógrafo. Estudou até o quinto ano do ensino fundamental, por não ter
condições financeiras para concluir os estudos. Sonhava em trabalhar no Jornal
o Pharol, não como jornalista e sim com tipografia. O Pharol foi seu primeiro
emprego e ficou lá até a aposentadoria, ganhou a confiança de Seu Joãozinho do
Pharol, dono do jornal, tornou-se revisora e aprendeu muitas coisas, como corte
e costura lendo as revista que chegavam no veículo.
Mais do que uma colunista social, Inah Tôrres segunda
perfilada do livro, foi retratada pelas autoras não só como a jornalista que
trouxe a coluna social para o Vale do São Francisco e sim como uma guerreira
que enfrentou um câncer e como um exemplo de jornalista ética. Inah, que era de
Caruaru, se encantou por Petrolina pelas histórias que seu irmão, também
jornalista. Mas, só veio morar na cidade depois que seu marido decidiu se
mudar. Chegando ao Vale, Inah foi convidada a trabalhar no Pharol, sendo a
primeira jornalista na cidade. Depois, junto com seu amigo Gentil, surgiu a
idéia de fazer a coluna social “Com Você... Crônica Social”. Já em 1982 recebeu
o convite para ser locutora na rádio Grande Rio AM, aceitou e fez o programa Em
Sociedade.
Maria Izabel Muniz, conhecida como Bebela, é a terceira
perfilada do livro. Juazeirense, apaixonada por sua cidade, Bebela formada em
pedagogia, é conhecida por suas poesias, histórias, pelo teatro e também por
ser jornalista cultural. Foi a primeira Secretária Municipal de Educação e
Cultura em Juazeiro, escreveu para vários jornais, principalmente para o Jornal
Juazeiro, hoje conhecido como Diário da Região. Também, foi radialista na Rádio
Juazeiro e participou, na década de 1980, das radionovelas dirigidas por Hértz
Félix, na Emissora Rural.
Também juazeirense, Layze de Luna, quarta perfilada, retrata
sua paixão e admiração por Juazeiro nas crônicas que a fez famosa na região.
Layze que desde pequena já sabia o que queria, não mediu palavras nas inúmeras
crônicas construídas por ela com o intuito de admirar e criticar, como no texto
“O Prepotente”.
A quinta e ultima perfilada é Lu Almeia. Pernambucana, da
cidade de Floresta, Lu se mudou para o Vale do São Francisco a fim de estudar
agronomia, todavia, influenciada por seu marido, acabou se rendendo aos
encantos do rádio e foi trabalhar como locutora na rádio Vale FM, em Juazeiro.
Foi uma das mulheres a implantar o jornalismo em uma emissora de rádio FM,
apresentando o boletim Vale Notícias.
Filhas de Lilith na Imprensa em Juazeiro e Petrolina, além
da história dessas cinco mulheres, traz fotos, matérias presentes no portfólio
da maioria delas e depoimentos de jornalista, antropólogos, familiares, pessoas
que conviveram com essas profissionais, para ilustrar o livro e deixar a
narração com ritmo leve e agradável. A fim de situar os leitores com as décadas
vividas por essas mulheres, há sempre entrelaçado com as histórias das
perfiladas um contexto histórico. As autoras, em alguns perfis citavam poetas
famosos para caracterizar alguns momentos ou gestos das perfiladas, o que se
faz notar o gosto por poesias da autora Jaquelyne.
O livro Filhas de Lilith na Imprensa em Juazeiro e
Petrolina, não é apenas um livro que conta a trajetória de cinco profissionais
da imprensa local, ele, acima de tudo, é uma parte valiosa da história do Vale
do São Francisco. Elisabete Campos
Souza, Inah Tôrres, Maria Izabel Muniz Figueiredo, Layze de Luna Brito e
Lucélia Eloísa Barbosa Almeida, cinco mulheres que fizeram a diferença e
participaram ativamente na construção da imprensa do Vale do São Francisco.
Cinco mulheres que mesmo apoiadas e incentivadas a seguir seus desejos e sonhos,
enfrentaram algumas dificuldades ao longo do caminho, mas nunca abaixaram a
cabeça e desistiram do que tanto gostavam por medo, critica, doença e idade.
Foram livres para fazerem o que desejavam, para serem mães de família e
profissionais exemplares. Para tais qualificações, passaram a ser Filhas de
Lilith.